data-filename="retriever" style="width: 100%;">Têm permeado os noticiários, quase que diariamente, narrativas acerca de consequências indesejadas das ações de policiamento ostensivo, especialmente nas cidades onde o enfrentamento ocorre de forma praticamente ininterrupta, como nas comunidades do Rio de Janeiro. São enfatizadas as vítimas de bala perdida e as abordagens que resultam em mortes ou lesões de inocentes. Em que pese a gravidade desses contextos (e por que não dizer graves equívocos) que atingem não só a pessoa que tem sua vida ceifada, mas também toda a sua família, amigos e as próprias comunidades, numa infindável contagem de danos colaterais, um dado que tem me chamado muito a atenção é a inversão da proporcionalidade dos dados estatísticos: ao mesmo tempo em que aumenta o número de mortes causadas por policiais, diminui o número de homicídios em geral. Dados divulgados ontem pela imprensa nacional revelam que, ao passo que as mortes provocadas por policiais aumentaram 15% no Rio de Janeiro, os homicídios em geral reduziram em 23% naquele mesmo Estado. Por óbvio isso nos põe a pensar se esse perecimento de inocentes seria um mal necessário no enfrentamento à violência, mas essa conclusão é tão absurda como imaginar que algumas vidas têm mais valor que outras.
Quem analisa de fora por certo não faz a menor ideia do que é ser um policial de linha de frente, de todas as implicações presentes no momento de uma abordagem, dos riscos decorrentes, das possibilidades de conflito, dos potenciais danos colaterais, das cobranças da sociedade. É extremamente fácil analisar um caso passado, sentado em seu sofá em frente ao televisor e afirmar: "por que não atirou nas pernas?", "por que não agiu quando deveria?", "por que agiu dessa forma?". Também é muito fácil analisar um laudo pericial e as demais provas presentes em uma apuração de uma ação equivocada da polícia e apontar falhas. Mas experimente imaginar sua inserção em uma situação de alto risco para si e para os outros e estar sempre obrigado a agir de forma absolutamente correta técnica e moralmente sem ter tempo hábil para fazer essas avaliações. Enfim, a polícia está sob constante mira da crítica, seja porque agiu, seja porque deixou de agir. E raramente se mostram as situações em que ela acertou na ação ou na omissão.
Meu objetivo aqui não é defender ações policiais equivocadas e que resultam em mortes ou lesões de inocentes, mas sim refletir acerca das reais responsabilidades acerca desse tão procurado ponto de equilíbrio entre uma polícia atuante e ao mesmo tempo eficaz, quase infalível. E a solução para essa pretensão obviamente perpassa pelo treinamento policial, pela responsabilidade do Estado com todas as vidas envolvidas no embate. Enquanto o Estado jogar toda a responsabilidade nos policiais, não assumindo a sua própria, que decorre da falta de investimentos especialmente em treinamentos - na formação e durante toda a vida profissional - e em equipamentos que proporcionem mais segurança de ação, o cenário de guerra, com baixas para todos os lados, continuará a fazer parte do noticiário nosso de cada dia